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BOLETIM DO ALUNO TEM QUE IR PARA OS DOIS

Pais separados que desejem acompanhar de perto a vida escolar dos filhos contam agora com um instrumento legal a seu favor. A Câmara Legislativa aprovou lei que obriga as escolas de ensino fundamental e médio do Distrito Federal a enviar correspondências regulares ao pai e à mãe que assim o desejarem, dando conta do desempenho dos alunos, mesmo que o destinatário não seja o responsável legal pela criança ou pelo adolescente. Antes da aprovação e promulgação da lei, apenas quem tinha a guarda do filho podia exigir que a escola lhe encaminhasse esse tipo de informação.

A nova lei agradou a pais separados que participam de organizações não-governamentais de defesa dos direitos paternos. “Apesar de a sociedade ainda ter o estereótipo de que, em caso de separação, o homem é quem está largando a família, nós colecionamos exemplos de pais que querem estar mais presentes na vida de seus filhos”, afirma Alfredo Lima, presidente da ParticiPais, ONG de Brasília que congrega cerca de 400 membros. Alfredo já ouviu relatos de pais que foram impedidos pelas ex-mulheres de entrar na escola dos filhos ou de buscá-los na porta do colégio. “Muitas vezes, a mãe espalha versões sobre o comportamento do pai e, então, os funcionários da escola começam a tratá-lo com falta de educação e até de respeito”, afirma o presidente da ParticiPais. Segundo Lima, alguns dos integrantes da ONG já tiveram até que entrar na Justiça para conseguir freqüentar a escola dos filhos.

Autor da proposta que deu origem à lei, o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) conta que a idéia nasceu depois que ele tomou conhecimento de casos de pais separados que, apesar de terem vontade de participar da educação dos filhos, eram impedidos pela outra parte. “Nem sempre o casamento acaba bem ou o convívio entre os ex é bom. Em muitas situações, as mães vetam o acesso dos pais à escola, o que prejudica as crianças”, diz o deputado, ele próprio um pai separado, sem, contudo, ter vivido problemas dessa natureza com a ex-mulher. “Quando decidimos pelo fim do casamento, ela e eu nos comprometemos a compartilhar todas as decisões sobre nossos filhos”, conta.

O parlamentar, entretanto, não pretende com a lei forçar pais ausentes a participarem da vida escolar dos filhos. “Quem sou eu para resolver o problema dos outros?”, pergunta Carvalho. “Minha intenção é apenas proteger o direito daqueles que se interessam pelos filhos”, completa. De acordo com o texto da lei, os pais devem declarar, no ato da matrícula ou da renovação, que desejam receber a correspondência sobre seus filhos. Caso não façam isso, as escolas ficam desobrigadas de enviar o boletim.

Bom, mas difícil
Presidenta do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe), Amábile Pacios concorda com a importância da participação dos pais na escola. “É essencial, mas, na prática, é muito difícil envolvê-los”, diz. Segundo a experiência dela, o mais comum é que os pais separados se dividam entre o responsável pelas despesas e o que faz o acompanhamento escolar. “Em muitos casos, eles nos passam dois telefones de contato: um de quem assume as contas, outro de quem deve ser comunicado sobre os problemas da criança ou adolescente”. Ainda de acordo com Amábile Pacios, apesar de todas as mudanças pelas quais o mundo passo, os pais continuam mais afastados da escola do que as mães. “Elas ainda são muito mais presentes”, afirma a dirigente sindical.

O Sinepe aguarda reunião do Conselho de Educação do DF para definir como fará a campanha de esclarecimento sobre a nova lei entre seus associados. “A maioria das escolas particulares já apresenta via e-mail as informações sobre os alunos. Acredito que não teremos problemas de adaptação”, afirma Amábile.

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Regina Vinhaes Gracindo acredita que a vida escolar pode aproximar pais e filhos que vivem em casas separadas. “Ao mostrar que deseja saber sobre a escola do filho, o pai consolida com ele um novo canal de comunicação”, explica. Regina cita como exemplo a visita que Mick Jagger, da banda The Rolling Stones, fez à escola do filho Lucas, em São Paulo. “Foi um ato de carinho e respeito para com a criança”, opina. A professora ressalta que o acompanhamento pelos pais não deve ser feito apenas via correspondência: “Eles precisam estar presentes mesmo, ir às reuniões, conversar sobre os métodos de ensino, opinar”. Regina, no entanto, destaca que acompanhamento escolar é diferente de reforço caseiro. “A escola deve assumir a tarefa de repassar os conteúdos de ensino e aprendizagem. Os pais têm outras tarefas a cumprir”, afirma.






Editor: Samanta Sallum // Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Subeditores: Ana Paixão, Roberto Fonseca, Valéria Velasco e Wilmar Alves
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Written by Érica Montenegro - Correioweb.

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