Ser Pai

ENIGMAS DA PARENTALIDADE

Nós, os luso-brasileiros, ao referirmo-nos ao casal, pai e mãe, temos somente a palavra “pais”. Todavia, “pais” é plural de pai, como no caso: “Esaú e Jacó são pais”.

Os alemães, os ingleses e os franceses têm uma palavra para indicar o casal, pai e mãe, e outra para indicar o plural de pai. Assim, no alemão temos Vätern e Eltern; no inglês, Fathers e Parents; no francês, Pères e Parents.

Temos, no nosso idioma, a palavra “parental” da qual derivamos “parentalidade”. Entretanto, parentalidade é palavra que não encontro nem no Aurélio nem no Houaiss. Enquanto não aparecer uma palavra específica para indicar o pai e a mãe, vamos nos contentar com a palavra “pais”. Porém, já que temos uma palavra específica para a função simultânea de ambos, pai e mãe, não precisamos nos ater somente à forma adjetiva, “parental”, podemos, segundo o gênio do luso-brasileiro, continuar propondo como vem sendo, o substantivo “parentalidade”. Faço-o sem o apoio dos dicionários – esses sempre chegam com retardo, e é por isso que são dicionários.

“Parentalidade” é, pois, substantivo que, originariamente, se refere ao pai e a mãe. Todavia, hoje, “parentalidade” refere-se também aos cuidadores que, ou nem são pai e mãe, ou nem são de sexos diferentes.

Não vejo que as variantes atuais do exercício da parentalidade estejam abalando ou anulando a estrutura cultural da parentalidade, concebida, na prática, enquanto “pai, mãe, filho”. Pelo contrário, essas variantes obrigam o pesquisador de qualquer área a discernir bem, entre outros conceitos, o que é “estrutura parental”, o que é “função parental” e o que é “papel parental”.

No ano de 2001, consegui interessar pesquisadores diferentes que apresentaram suas idéias sobre a “Paternidade”, “a função do pai” e “o papel do pai” a mais de 120 participantes. Esses pesquisadores e os temas que lhes foram oferecidos são os seguintes:


• Alduísio Moreira de SOUSA: O PAI LUSO-BRASILEIRO
• Alfredo Nestor JERUSALINSKI: O PAI NA LITERATURA IBERO-AMERICANA substituído a pedido do autor por O PAI E O DISCURSO: O ESTATUTO DA VERDADE
• Bruno TOLENTINO: A PENA DO PAI NA CLÍNICA DA PENA: “A balada do cárcere”
• Edson Luiz de SOUZA: O PAI NAS ARTES PLÁTICAS
• Donaldo SCHÜLER: O PAI NAS LÍNGUAS DE JOYCE
• Ernildo Jacob STEIN: FILOSOFIA - O PAI NO EXÍLIO
• José Luiz CAON: O PAI NA PESQUISA PSICANALÍTICA
• Luis Carlos PETRY: O PAI NOS REGISTROS DAS FALAS E NOS ESCRITOS DE LACAN
• Luiz-Olyntho Teles da SILVA: O PAI NA CLÍNICA PSICANALÍTICA
• Luiz Osvaldo LEITE: O PAI SEM FILHOS – O JESUÍTA
• SÉRGIO BAIRON: LACAN, O PAI FORA DA UNIVERSIDADE
• Wiliam B. GOMES: O PAI NA PESQUISA FENOMENOLÓGICA
• PAINEL: José Luiz CAON e Luiz-Olyntho TELLES DA SILVA: O PAI NA PSICANÁLISE, DENTRO DA INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA E DENTRO DA INSTITUIÇÃO PSICANALÍTICA
• PAINEL: Luis Carlos PETRY e Sérgio BAIRON: LACAN, O PAI NA PSICANÁLISE, FORA DA INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA E FORA DA INSTITUIÇÃO PSICANALÍTICA
• PAINEL: Bruno TOLENTINO: O PAI NA PRISÃO ou O PAI CONTRAVENTOR e Eduardo XAVIER: O PAI NO HOSPÍCIO (ou O PAI PSICÓTICO)
• PAINEL: Jaime BETTS: O PAI NO SINTOMA E NO FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO e Luís Fernando Barnetch BARTH: O PAI NO SINTOMA E NO FENÔMENO GOZOLÁTRICO
• Painel: José Otávio Catafesto de SOUZA: O PAI ÍNDIO e Rui Leandro da Silva SANTOS: O PAI NEGRO



De lá até hoje, estudos avançados, pesquisas de ponta e clínica psicológica ou de escuta psicanalítica não ficam insensíveis às inovações trazidas pelas mudanças sociais e culturais provenientes das famílias e especialmente dessas “para-famílias” que, sem o pai provedor, ou mãe genitora, ou ambos, aparentemente estariam denunciado o fracasso e banimento da função paterna e materna. Isso faz com que intelectuais de encomenda, mais oportunistas do que desesperados, estejam anunciando a emergência de uma nova função que substituiria a função paterna e materna, a saber, a função fraterna. Não fossem psicanalistas nem lacanianos, esses pesquisadores de última hora, poderiam ser convidados a retornar a Lacan. Mas, como se autodenominam lacanianos, não vejo, em suas propostas, senão atestado de rotundo fracasso no entendimento da pesquisa psicanalítica lacaniana.

Um dos grandes méritos de Freud e de Lacan, enquanto clínicos e pesquisadores, foi sua abertura para a renovação. Abertura irreversível para os problemas do seu tempo e renovação teórica continuada. É com esse espírito que, agora, retomando a proposta de 2001, vamos também abrir-nos para as noções e concepções da parentalidade. Esse breve curso que o leitor irá examinar e quem sabe também freqüentar teve que deixar de lado, para outro momento, inúmeras perspectivas: parentalidade na música; parentalidade nas artes plásticas; parentalidade na literatura; parentalidade no direito, etc.

Mas, por que esse curso nas vésperas do Natal e do Carnaval?

Quando eu era guri, somente as crianças ganhavam presente no Natal. Depois, vi que os adultos também se presenteiam. Vejo que, cada vez mais, no Natal, há participantes no dispositivo do “amigo secreto” (sul do Brasil) ou “amigo oculto”. Mais. Com muita freqüência, cada qual costuma levar um presente para cada um dos diferentes participantes.

Isso não é nada inocente, a meu ver. Será que estamos roubando a cena do menino? Será que isso é pura influência comercial? Para meu entendimento, isso é uma das emergências da força da parentalidade, pois que, onde aparece um inocente, há pelo menos um ou mais adultos para recebê-lo e acolhê-lo. Então, o presente de adulto para adulto, ou de criança para adulto é um reconhecimento declarado da parentalidade, a qual somente pode ser de adultos, isto é, adultos da humanidade.

É claro que a força de sedução e de atração que encontramos na fragilidade de um recém-nascido abala, comove e faz tudo parar, como vemos com as tréguas das guerras no período de Natal. Podemos, então, também nós trocar achados e teorias e ao mesmo tempo comunica-las a participantes sedentos de novas esperanças? Conta-se que a orquestra do Titanique não parava de tocar perante o desastre que se avolumava.
De novo: mas, por que esse curso nas vésperas do Natal e do Carnaval?

Carnaval representa o empuxe dionisíaco da existência humana que fulgura sem ficar encurralado nas Escolas de Carnaval ou na Temporada de Carnaval. De fato, Natal e Carnaval não somente rimam. Não somente têm temporada próxima. Não dá para resumi-los unicamente na festa da Encarnação do Verbo e na Festa da Carne.

Podemos elucidar o que pode haver de comum e de diferente entre eles? Creio que podemos encaminhar uma proposta capaz de pôr, frente a frente, as esperanças milenares do judeu-cristianismo natalino dos excluídos do velho e franco Império Romano (moderna e hipócrita Globalização) e as esperanças quadricentenárias de expropriados brasileiros a quem tudo se expropriou, menos o orgasmo! Estamos propondo estudos, pesquisas e atividades em dois campos de idéias aparentemente diferentes, mas que têm em comum o fato de terem padecido a exclusão já em seus nascimentos.
É o que, com a parentalidade, esse emergente, se poderá elucidar com estudos, pesquisas e atividades de todo o gênero. Assim, estamos agora, Departamento de Psicanálise e Psicologia da UFRGS e Secretaria Municipal da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre, promovendo um Curso de Extensão, universitário, sem restrições de inscrição a não ser para aqueles que desejarem obter certificado.

Caso o leitor queira participar desse curso ou informar-se sobre ele, basta dirigir-se ao site: http://www5.ufrgs.br/psicopatologia/

Prof. Dr. José Luiz CAON, psicanalista
jlcaon@xxx.terra.com.br *

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Written by Dr. José Luiz CAON, psicanalista.

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