Aqui a Paternidade

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Assunto Sério

DO ACONCHEGANTE COLO AOS LIMITES

O aconchego, a sensação de calor, proteção, sustentação é necessária para o bebê poder viver. O abraço e colo maternos, inicialmente são os lugares protegidos que fazem o bebê sentir-se que ele é amado e que existe. O vazio sentido, quando há uma ausência prolongada de cuidados maternos pode levar a criança até o extremo de morrer, ou ao desinteresse pelo que a rodeia, e instalar se à depressão na infância. E quando adulto à delinqüência ou às drogas.

Quando falo de aconchego e colo “materno”, estou marcando fundamentalmente uma função importante que usualmente é exercida pela mãe, mas que não é exclusiva dela, e sim de quem cuida da criança. Assim quando falamos do colo e aconchego não estamos falando exclusivamente da mãe. O aconchego é essa capacidade de acolhimento que todo ser humano precisa sentir nalgum momento da sua vida para aprender a ser acolhedor. Capacidade só de aqueles que foram reconhecidos pelo olhar amoroso de um ser que o sustentou com a mirada e que não permitiu sentir a sensação de derrubamento. E disse: Estou aqui para aquilo que precisar.

Como traduzir estes cuidados: aconchego, abraço, quando o bebe cresce e vira um (a) menino (a) ou um adolescente? O abraço e a sensação de estar sendo sustentado, fala de uma ação que no ato se traduz como algo que o circunda, impedindo-o de despencar, cair ou se machucar.

O abraço é o limite corporal que dá afeto e existência. Assim também os limites que os pais dão aos seus filhos são as maneiras de dizer-lhes “te amamos” “te protegemos” “te cuidamos”.

Os limites sempre estão em pauta no trabalho com os pais. Da criação rigorosamente pautada por ordem e limite do inicio do século passado, se transformou no decorrer das décadas, em muitos casos, na ausência de limites! Pais e ou avos que viveram o rigor de anos passados e resolvem abolir qualquer limite. Assim como no jogo infantil da gangorra passasse de um extremo a outro com a maior facilidade ou perde-se qualquer forma de limite. Esses pais sentem-se muitas vezes incapazes de saber como ser pais, caindo no oposto ao rigor: a falta de limites.

Do extremo rigor à ausência total de limites... mal dos nossos tempos. A criança e o adolescente, seres humanos em crescimento precisam de limites claros, objetivos para a rotina de suas vidas. Precisam de tempo para brincar, comer, higiene, estudo, etc.

Nas entrevistas com pais ou quando coordeno grupos de pais percebo como os filhos pedem limites! Será que aprendemos a ouvir alguns desses sinais como quando pequeninos nos pediam o colo? O limite faz bem, saber o que pode ou o que não pode, porque agora sim e porque não ontem ou amanha. O limite se coloca na fala, na conversa sobre o assunto no dia a dia. Os limites esclarecem o amor. Os limites são necessários como fora o aconchego e o colo, eles dão à criança e ao adolescente a sensação de se sentir amado e protegido.

Nas situações de separação dos pais vemos como muitas vezes a situação se torna complicada. Pais/mães que às vezes não vivem com o filho tentam compensar a ausência se excedendo em agrados ou vivendo com o filho situações de “chantagem emocional” da parte do filho e outras tantas da parte de uma das figuras parentais o que acaba dando a sensação de não acolhimento ou de um excesso não vinculado à realidade do momento.

Assistimos depoimentos de adolescentes vitimas da dependência química que falam do descaso paterno, de pais que parecem nunca saber ou querer saber sobre as necessidades, interesses e ou amizades dos filhos. Como se criados para á vida, logo sedo houvessem desistido de acompanhar o processo de crescimento dos filhos.

O colo materno, aquele abraço não é apenas o ato amoroso e aconchegante da primeira infância, quando crescido o filho precisa ser abraçado, aconchegado. Esse aconchego é reconhecimento das necessidades e dos momentos diversos que atravessa o filho. Aconchego que remete ao abraço que não prende, não sufoca, não aperta. No ato do abraço existem sempre duas pessoas com momentos e necessidades diferentes assim como não prende tampouco escraviza, o abraço não é cola. É interessante enfatizar que para que existam duas pessoas a presença paterna é aquela que funcionara para não fundir o filho ao colo materno, presença que devera permitir que existissem duas pessoas e não uma só (mãe/filho grudados) Existe sempre duas pessoas no aconchegante colo é por isso é preciso olhar para que seja possível a diferenciação e a diferença: ser pai, ser mãe, ser bebê, ser crianças, ser adolescente.

Como em todo encontro amoroso é preciso manter e ou alimentá-lo. Nunca é tarde para abraçar, aconchegar, mostrar amor e afeto pelo filho. Assim como nunca é tarde para olhar quais as necessidades do filho, perceber que há nuances a cada dia a cada mês! E ir ao encontro de um ato aconchegante e dizer para ele MEU FILHO EU TE AMO E DESEJO QUE SEJAS FELIZ! Quem pode ser feliz sem reconhecer a presença do outro? O limite prepara nossos filhos para vida, para o respeito e amor a si próprio e os outros. Prepara para o reconhecimento das diferenças. Por isso, muito cuidado com o abraço: que não aperte que não sufoque ou escravise.


Maria Antonieta Pezo
Psicanalista
Telefones: 30329125 / 97046053
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