DEPOIS DO DIVÓRCIO, VIREI UM MONSTRO
A maioria das separações é pedida pelas mulheres. Mas, quando é o homem que resolve sair de casa, ele quase sempre vira um crápula aos olhos da ex.
"No fim de 2000, depois de sete anos de casamento, eu me separei. Acordamos verbalmente que eu continuaria a pagar tudo para Lucas, então com 7 anos. Nossa separação foi tão amigável que, mesmo só tendo direito, oficialmente, a ficar com meu filho dois fins de semana por mês, ele ainda dormia em casa três vezes por semana. Um ano depois, comecei a namorar minha atual mulher. Os problemas então começaram. Primeiro, minha ex-mulher cortou as visitas "extras". Depois, proibiu Lucas de falar comigo pelo telefone. Eu então comprei um celular para ele. Uma vez ela enrolou fita isolante no aparelho.
Por causa das brigas, Lucas teve de fazer terapia. Quando a psicóloga lhe contou que Lucas tinha vontade de morar comigo, ela suspendeu o tratamento. Quando ela descobriu que eu visitava o menino nas aulas de futebol e natação, suspendeu os treinos. No ano passado, quando minha mulher engravidou, a fúria dela explodiu. Eu fiquei três dias na cadeia porque ela reclamou na Justiça que eu nunca havia pago pensão. O juiz não aceitou a justificativa de que havia um acordo verbal entre nós. Hoje luto na Justiça pela guarda de Lucas. Tenho uma família linda, uma boa casa e a cabeça no lugar."
WM 36 anos, engenheiro
No Brasil, cerca de 80% das separações litigiosas são pedidas pelas mulheres. Não há dados oficiais sobre as separações consensuais, mas os especialistas estimam que, também nesses casos, o ponto final cabe ao sexo feminino. Quando, no entanto, é o homem que decide encerrar o casamento, é pressão de todo lado. Se ele tem filhos, sente muita culpa por privar-se do convívio diário com as crianças. Imagina que, por sua causa, os pequenos sofrerão traumas indeléveis. Sem contar o rancor da mulher... Ops, da ex-mulher. É inevitável: se elas se sentem rejeitadas, cavalheiros, é um deus-nos-acuda. Para aplacar o sentimento de fracasso em relação à prole e contornar a fúria da ex, muitos homens arcam com uma quantidade enorme de responsabilidades - freqüentemente, maior do que lhes é exigido por lei. O bom senso diz que, se a mulher trabalha, ela deve arcar com parte das despesas dos filhos. Mas alguns ex-maridos, apesar disso, se responsabilizam sozinhos por tudo - escola, cursos extracurriculares, roupas, médico, dentista, passeios... Até aí, dá para entender. É para as crianças. Há, contudo, aqueles que, além de tudo isso, ainda arcam com várias despesas da ex, como viagens de férias, combustível do carro, conta do telefone, entre outras. Se você está nessa, meu amigo, melhor procurar aplacar a culpa no divã de um analista (se você ainda tiver dinheiro para isso, é claro).
É duro, mesmo: não importa o tamanho do esforço para alcançar um mínimo de paz, quando é ela a ser deixada, o ex sempre será visto como um monstro. Se arruma uma namorada, resolve se casar novamente e formar uma nova família, o mais provável é que ela vá à loucura. Por isso mesmo, os especialistas recomendam que tudo o que se refere à separação deve ser colocado no papel. Fazer acordos verbais é arriscadíssimo. O mais importante é preservar as crianças. O inferno que envolve uma separação, inevitavelmente, mexe com elas. Mas, se o processo for conduzido civilizadamente, os pequenos passarão por ele sem maiores problemas. Vários estudos feitos recentemente mostram que, quando as crianças são mantidas a uma distância prudente do conflito entre os ex, conseguem adaptar-se muito bem à nova realidade. Uma pesquisa sobre separação conjugal, coordenada pela psicóloga Mavis Hetherington, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, com 1 400 famílias e 2 500 crianças, revelou que 80% dos filhos, poucos anos depois da reviravolta na família, estavam muito melhor do que nos últimos tempos de união familiar.
Passado o período de turbulência do divórcio, a relação do pai com os filhos apresenta ganhos enormes. Justamente por não estarem mais morando com as crianças, os pais fazem das tripas coração para estar mais próximos delas. É comum, por exemplo, levantarem cedíssimo de manhã só para levar os filhos ao colégio. Além disso, tentam fazer com que o tempo em que ficam juntos seja realmente especial. Homens assim, de monstros não têm nada.