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Ser Pai

PESQUISA NA REVISTA VEJA, SOBRE A SITUAÇÃO PÓS DIVÓRCIO

Veja como anda a vida de casados no Brasil. Saiu uma coleção perturbadora de números a respeito do casamento. Eles integram um estudo realizado pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e coordenado pelo professor Ailton Amélio da Silva, especializado em relações amorosas. O trabalho de Ailton Amélio prova com números que os homens preferem moças mais jovens para contrair matrimônio. A diferença de idade encontrada no primeiro casamento é pequena, de apenas três anos. Os dados mostram que os noivos se casam em média aos 27 anos e as noivas, aos 24. Embora eles jurem amor eterno durante a celebração, as estatísticas do IBGE afirmam que 70% dos pombinhos permanecerão juntos, na maior parte dos casos, por até dez anos. Após a separação, ele terá 37 anos e ela, 34. O homem, avisa o professor Ailton Amélio, irá casar-se num prazo relativamente curto de tempo - e continuará a preferir as mais novas. A diferença é que ele agora sairá atrás de uma parceira nove anos mais jovem que ele. Essa busca por moças acompanhará o homem por toda a vida. Lá para a frente, quando chegar à faixa dos 60 anos, ainda que esteja no terceiro ou quarto casamento, dizem os números que ele irá juntar-se com alguém mais nova. Nesse caso, a diferença de idade passará a ser de catorze anos.

E sobre a ex, o que diz a pesquisa? Lamentavelmente, a notícia não é boa. Os dados confirmam uma velha suspeita: as mulheres saem em grande desvantagem quando procuram um cônjuge a partir dos 30 anos. E uma das razões para essa desvantagem, segundo o coordenador do trabalho, é o próprio comportamento da mulher durante a caça ao marido. "Elas assustam os pretendentes porque ficam desesperadas em cruzar a fronteira dos 30 sem estar casadas", diz o psicólogo Ailton Amélio. Quando um casal se separa, em 56% das vezes a mulher vira chefe de família, com a dupla responsabilidade de gerir a casa e os filhos, uma condição que a prejudica na busca por um novo parceiro. O homem, por outro lado, volta à casa dos pais em 34% das vezes e vai morar sozinho em 32% dos casos. Ou seja, livra-se dos compromissos assumidos e concentra-se na tarefa de arrumar namoradinha nova. Se a mulher já tiver filhos ao se separar, o que acontece com a maior parte delas nessa idade, o tempo até arranjar um novo marido pode chegar a quatro anos e meio. Isso significa que ela vai ficar só por um bom tempo. Há várias razões para isso. Uma das mais fortes é que, culturalmente, as crianças ainda assustam pretendentes.

O dado curioso é que essa coleção de informações a respeito do casamento, muitas delas desanimadoras, não arrefece o desejo dos jovens de se casar. A última palavra sobre o assunto é um livro que analisa o interesse deles por esse tipo de união. Chama-se The Starter Marriage and the Future of Matrimony (O Primeiro Casamento e o Futuro do Matrimônio), com previsão de chegar ao Brasil até o fim do ano. Em 296 páginas, a demógrafa americana Pamela Paul estudou o tema com base em entrevistas exaustivas. Um dos pontos mais interessantes do trabalho foi a constatação de que os jovens mantêm a mesma vontade de casar das gerações anteriores. O que mudou, diz Pamela, foi a razão que conduz os noivos ao altar.

Para examinar o que de fato estimula o casamento, a autora desprezou a primeira série de respostas, associadas à idéia de paixão. E fez isso pelo simples fato de que todos dizem estar amando. Pamela concentrou a análise nas causas de fundo, aquelas que acabam vindo à tona depois de algumas horas de entrevista. Um dos motivos mais citados para justificar a opção pelas núpcias é o medo de ficar só. Esse sentimento demonstra o livro, faz com que a decisão seja tomada de forma apressada. Outro fator significativo, segundo os jovens, é o desejo de construir a dois um lar que funcione como porto seguro num mundo cada vez mais cheio de incertezas. A autora destaca ainda um ponto extra: "Boa parte das pessoas acabou contando que se casou porque viu os outros a sua volta se casarem", afirmou Pamela a VEJA. "Ou seja, o casamento é sacramentado sobre bases irreais", completou. O livro conclui que o destino desse matrimônio já está traçado. Vai terminar em separação.

Segundo os estudiosos do tema no Brasil, as conclusões de Pamela podem ser aceitas como verdade também em solo nacional. Nos principais consultórios brasileiros, os médicos comprovam que o casamento se tornou um objetivo de vida para os jovens. De acordo com os depoimentos ouvidos por quem trabalha há décadas na área, o matrimônio passou a significar, também, a cura para a solidão e a sensação de vazio. A psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Terapia de Casal e Família da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, está há trinta anos no ramo e percebe que o casamento é cada vez mais idealizado. "Isso acontece porque existe uma lacuna de outros objetivos e ideais na juventude atual", observa. A sociologia já examinou a fundo as motivações dos jovens nas outras décadas e chegou à conclusão de que atualmente há menos alicerces em que se apoiar. A política, por exemplo, não é nem de longe o palco de discussão e embates que foi para seus pais nos anos 70. A atual juventude trouxe o ritual de volta à cena nesse vácuo. "Para ela, o casamento tem o poder de dar um basta numa crise existencial", diz Magdalena Ramos. Pelo menos por um prazo de dez anos.

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