A MAMMA
Mamma, matrona, madona, todas elas se confundiam na adoração que o filho italiano sempre dedicou à mãe. Dos europeus, a mãe mais cultuada sempre foi a italiana. Os homens quando escolhiam a noiva, usavam como parâmetro as virtudes maternas.
Hoje, o país queda-se confuso e perplexo ante a onda de matricídio que tem ocorrido. O que está havendo? A "mamma" já não é mais aquela? Os filhos já não são mais aqueles? A Itália que sempre teve a "mamma" como sua espinha dorsal também já não é mais a mesma?
Diante de um temor até agora desconhecido, os criminologistas, sociólogos, psiquiatras e juristas levantam hipóteses mas até agora não chegaram a um denominador comum sobre algo que indique as causas desse novo mal.
O jornal espanhol El País diz que o número de assassinatos em família aumentou 100% nos últimos 20 anos; os italianos não estavam muito preocupados pois seus adolescentes não manifestavam conflitos de gerações até que explodiu essa brutal reação de violência: no dia 22 de fevereiro passado numa tranqüila cidade do interior no Piemonte, um casal de namorados adolescentes (16 e 17 anos), assassinaram a facadas, a mãe e o irmão menor da menina.
Como numa sucessão em cadeia com intervalo de poucos dias e em menos de um mês, em diversas partes da Itália do Piemonte (noroeste) a Nápoles, passando por Turim e terminando na Sardenha: 5 mães sofreram tentativa de assassinato pelos próprios filhos, 3 morreram e 2 conseguiram escapar.
Os crimes que fizeram com que das manchetes dos jornais jorrassem sangue materno, estão fazendo também com que especialistas arranquem os próprios cabelos se debatendo entre fatos e hipóteses que os deixam atarantados.
Os fatos: filhos estão assassinando mães com requinte de crueldade (facadas, sufocação, socos, etc...) – esses filhos são provenientes de lares abastados – a falta aparente de motivos familiares ou sociais que justificassem tais atos – a ausência de culpa pelo ato praticado (Érika, a adolescente que matou a mãe a facadas, de Milão, onde está detida disse tranqüila: "A vida é longa", e o que mais os assustam são as mensagens que ela tem recebido de outros adolescentes: "Érika, você é corajosa").
Algumas das hipóteses levantadas: o país em poucas décadas deu um salto econômico gigantesco e se alinhou ao pelotão de frente da Europa; pais e mães geralmente trabalham fora abastecendo seus filhos com roupas de marca, telefones celulares, enfim, com toda parafernália moderna que a onda consumista pode proporcionar, restando, portanto, um excesso de pais maravilhosos dedicados a ganhar dinheiro e pouco tempo para se dedicarem a esses filhos? – Há pouca qualidade na quantidade de relações? – As separações dos casais? – A emancipação feminina proporcionando a ela o sucesso profissional afastando-a, portanto, do altar (lar) onde era santificada?
Tudo por enquanto são hipóteses a serem estudadas. O que é certo é que algo mudou no lar italiano derrubando o mito materno colocando em risco a tradição de que este é o país europeu onde os homens sempre ficaram mais tempo na casa dos pais, dependentes da família e principalmente da "mamma".
A mulher italiana atualmente está cada vez mais distante da imagem da matrona outrora cultuada. São mulheres modernas que cuidam da profissão e dedicam cuidados especiais com a aparência ficando a léguas de distância da antiga matrona gorda vestida com roupas recatadas e que não dispensavam o avental, fazendo e servindo a macarronada à família bem alimentada; seria também esse um dos motivos dos atuais conflitos?
Os motivos palpáveis aos olhos jurídicos podem parecer torpes, mas ainda não foram analisados e avaliados os motivos psicológicos que estão facilitando toda essa tragédia.