Análises

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Atualmente, a discussão legal contra o castigo físico de crianças por seus pais e responsáveis tem se apresentado, levando a promulgação de leis que penalizam os agressores, em diversos países, com o intuito de inibir ou, ao menos, diminuir a ocorrência de danos físicos e psicológicos a esses seres indefesos.

O caso Isabella traz de volta a discussão sobre um problema antigo e que permanece escondido em diversos lares brasileiros: a violência doméstica. Números atuais revelam que as crianças continuam sendo mais agredidas por aqueles que justamente deveriam protegê-las

De acordo com o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), foram registradas 207.079 denúncias de violação por parte da mãe, seguidas por 182.167 ocorrências de violação provocada pelo pai. O padrasto (17.376), organizações de assistência social (13.456) e os avós (10.354) também aparecem no topo da lista, acompanhados por tios (7.487), irmãos (5.217) e madrasta (4.020).

Os dados foram colhidos, entre o dia 1.º de janeiro de 1999 e 23 de abril de 2008, em vários conselhos tutelares de 21 Estados e do Distrito Federal (DF). O sistema é mantido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), com apoio do Ministério da Justiça e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda)

A suspeita diagnóstica de abuso físico será feita sempre que:
- Houver discrepância entre a história e o exame físico, nos fatos, na cronologia ou na seqüência do evento, entre a história e o desenvolvimento neuro psico motor.
- As informações são absurdas ou pelo menos duvidosas.
- O tempo de latência do ocorrido até a procura do socorro médico é muito longo, fato normalmente curto nos verdadeiros acidentes.
- Os “acidentes” ocorreram em horários impróprios, sendo o exemplo clássico o que ocorre entre 24 e 6 horas da manhã, horário habitualmente de sono da criança.
- Os “acidentes” são recidivantes e é comum irmãos com achados semelhantes.
- A inconsistência da história, o padrão da lesão e a demora na procura de atendimento médico são indícios valiosos.

Achados Físicos e Padrões das Lesões
Pele: Escoriações, vergões, equimoses, hematomas e cicatrizes.
Lesões propositais são encontradas em locais poucos freqüentes tais como as costas, nádegas, braços, coxas, peito, face (queixo e fronte são locais comuns de traumatismo acidental), orelhas, mãos e pés. Em muitos exemplos, pelas marcas superficiais pode se reconhecer o objeto utilizado para provocar a lesão. As mais comuns são marcas de corda com laço, marcas de cinto ou fivela, dedos, sinais do polegar e das mãos. Marcas de estrangulamento e contenção são resultado de tentativa de enforcamento, sufocação e em alguns casos de amarrar a criança ao berço, à cama ou á cadeira ou mesa.
O tempo de resolução de uma equimose varia muito, dependendo do grau de força utilizada para provocá-la.

Queimaduras
- Queimaduras por imersão são as formas mais comuns.
- Os padrões típicos são queimaduras simétricas em mãos e pés (sinal em par de luvas) ou pernas e períneo, provocadas por imersão do bebê ou criança em água fervente.
- Raramente essas queimaduras são acidentais.
- Queimaduras por cigarros são marcas profundas, delimitadas de diâmetro de 7- 8mm, na cicatrização fica uma lesão redonda, amarronzada, profunda com perda de tecido.

Lesões Esqueléticas
Padrões Radiográficos Típicos:
- Fraturas múltiplas, não explicadas (geralmente simétricas) de várias idades, envolvendo os ossos longos e costelas de um bebê ou criança jovem.
- Lasca metafisária - fratura em balde, fratura em ângulo.
- Fraturas múltiplas ocultas na criança jovem e no bebê que engatinha é aconselhável exame do esqueleto em crianças maiores de 2 anos .
- Traumatismo craniano é a principal causa de morbidez e mortalidade na síndrome do abuso de crianças, a incidência varia de 7 a 75% dos casos de abuso físico.
- Os lactentes tem o maior risco com mais de 90% das lesões identificadas antes dos 2 anos de idade.

Síndrome do Bebê Sacudido é a mais importante de todas pela complexidade do diagnóstico (crianças < 1ano e < de 6 meses). Apresenta fraturas tipo metafisária +
hemorragia de retina + hematomas subdurais (forças transversas aceleração x
desaceleração que rompem vasos frágeis entre a dura-mater e o córtex).
- Agressão(sacudidas) Aumento da pressão intracraniana convulsões
Hipoventilação ou PCR .
Hemorragia de retina ( 50 a 100% dos casos)
Fraturas de costelas
Hematoma subdural , na área parieto-occiptal.
Lesões abdominais e torácicas
- Resultantes de socos, chutes, pancadas no chão aplicadas com força.
- Hematomas do duodeno, Intestino delgado e/ou rompimento mesentérico, contusões pancreáticas e renais, lacerações do fígado ou baço.
- Lesões torácicas propositais incluem contusões pulmonares e hemorragias do timo ou pleural.

Diagnóstico Diferencial
1- Doenças hemorrágicas / Púrpura de Henoch Schonlein / Toxidade do salicilato
2- Manchas mongólicas / S. de Ehlers - Danlos tipo I
3- Lesões equimóticas da vasculite por hipersensibilidade
4- Eritema multiforme / lesões de impetigo
5- Osteogênese imperfecta / Sífiles congênita
6- Deficiência de Vit.C ou D
7- Síndrome de Cornélia de Lange *
8- Síndrome de Lesch Nyhan *
9- Retardo mental *

Lesões auto-infligidas causando mutilações associadas à depressão infantil.


“Os adultos têm uma postura adultocêntrica, dominadora e autoritária, que atua como facilitadora da violência doméstica. Quando um pequeno contraria alguma regra imposta, o assunto é resolvido violentamente e as agressões são aceitas culturalmente como prática pedagógica.” (Suzuki, 1993, p. 25).

Imprimir Email